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Banco Central aposta na tokenização para a nova economia digital

Durante uma conversa descontraída com o BC Trends, Antonio Marcos Guimarães, que atua no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, destacou um tema que promete transformar a economia brasileira: a tokenização. Com mais de 20 anos de experiência em supervisão bancária e regulação, ele não hesita em afirmar que “o potencial da tokenização é do tamanho da economia brasileira”.

Essa afirmação pode parecer ousada, mas Antonio acredita que essa tecnologia pode trazer um novo fôlego em setores como o mercado de crédito, a negociação de imóveis, precatórios e até títulos do agronegócio. Tudo isso com mais eficiência, segurança e novas oportunidades de investimento.

“É um modelo de negócio que proporciona ganhos de eficiência e pode mudar radicalmente a economia em diferentes áreas. Além de eliminar processos complicados, aumenta a rastreabilidade e permite novas combinações entre ativos financeiros”, completa.

Tokenização: Entenda o conceito

Antonio explica que tokenização é a transformação de ativos reais — como imóveis, contratos e recebíveis — em representações digitais que ficam registradas em blockchain. Esses “tokens” funcionam como peças modulares e programáveis, que podem incluir cláusulas, direitos e garantias específicas.

“Imagine a tokenização como um conjunto de blocos de LEGO. Um financiamento pode virar um token, ao qual você pode acoplar seguros, garantias e regras automáticas. Tudo é componível e automatizado”, detalha.

Esse modelo não só reduz custos e riscos de fraudes, mas também torna ativos que costumam ter baixa liquidez mais acessíveis. Um exemplo que Antonio traz é o CDB tokenizado. Com essa abordagem, os bancos podem dividir títulos e oferecer negociações entre clientes em mercados secundários, como se fossem mercados online.

“Assim, o cliente não precisa esperar o vencimento do título. Ele pode negociar sua parte quando quiser, e o banco consegue equilibrar seu endividamento sem depender só de prazos curtos”, explica.

Realidade da tokenização no Brasil

Embora a ideia de tokenização possa soar futurista, ela já é uma realidade em nosso país. Antonio menciona casos concretos como a tokenização de imóveis fracionados, cédulas de crédito bancário e precatórios. O potencial de democratizar o acesso e desbloquear mercados é claro, mas muito ainda depende de uma legislação sólida.

“Empreendedores têm um pé atrás com a tokenização por conta da insegurança jurídica. Eles não sabem se isso será considerado um valor mobiliário, um ativo financeiro, ou outra coisa”, alerta.

Essa falta de clareza pode criar um efeito paralisante: sem entender qual órgão regulador será responsável — se o Banco Central, a CVM ou ambos — o mercado tende a se retrair. Antonio sugere que o Brasil deveria criar um marco legal específico, inspirado em regulamentações adotadas, como a MiCA, que já está em vigor na União Europeia.

O papel da segurança jurídica

Para Antonio, a tokenização é um modelo de negócio legítimo, mas é necessário ajustar o arcabouço legal para que ela ganhe tração de forma segura. Um ponto crucial é garantir que os tokens sejam reconhecidos como títulos de crédito, com validade em processos jurídicos.

“Para que um token represente um crédito, ele precisa ser reconhecido dessa forma. Isso traz segurança ao investidor e encoraja o crescimento do mercado”, afirma.

Além disso, ele acredita que o Estado deve ter um papel ativo nesse processo. Isso poderia incluir ações conjuntas entre o Banco Central e a CVM, como o uso de sandbox regulatórios para testar modelos em ambientes controlados, além do desenvolvimento de infraestruturas financeiras que integrem tokens ao sistema financeiro tradicional.

Inteligência artificial: uma aliada da tokenização

A conversa também abordou como a inteligência artificial pode acelerar a tokenização. Segundo Antonio, a IA pode facilitar a análise de dados, automatizar a conformidade regulatória e aumentar a transparência das transações.

Entretanto, o que realmente pode revolucionar tudo é a componibilidade, que permite adicionar funções aos tokens de maneira dinâmica. Isso abre espaço para tokens “inteligentes”, que se adaptam ao comportamento do mercado ou às regulamentações em vigor.

“Imagine um token que una crédito, seguro e o desempenho do tomador em um único ativo. Ele teria a capacidade de se ajustar, gerar alertas, ativar contratos e até mudar taxas de forma automática. Isso mudaria o cenário”, conclui Antonio.

O futuro da tokenização

Com a agenda regulatória em andamento para 2025/2026, espera-se que os primeiros passos em direção a esse novo ecossistema digital sejam dados em breve. O importante será encontrar um equilíbrio entre inovação e uma regulação prudente, mantendo a agilidade sem comprometer a proteção ao investidor.

Antonio Marcos Guimarães vê um futuro promissor para a tokenização no Brasil, destacando que isso não depende só da tecnologia, mas de decisões regulatórias bem pensadas e colaborativas.

“O Brasil tem tudo para ser protagonista nesse processo. Precisamos de normas claras, cooperação entre reguladores e estímulos à experimentação. A tokenização pode ser tão grande quanto a economia brasileira — apenas depende de nós.”

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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